Logo após o apito final, me peguei refletindo sobre o que poderíamos aprender não só daquele jogo, entre Brasil e Alemanha, mas de toda participação brasileira na copa. Não ficarei de rodeios sobre tudo o que veio a minha mente, até porque no calor daquele momento, tive que filtrar muitas emoções que insistiam em distorcer a imagem que eu buscava sobre o verdadeiro aprendizado que deveríamos tirar daquela triste e desastrosa situação.
A reflexão que eu fazia, na verdade, era para tentar achar uma resposta que justificasse o que todos nós vimos, ou seja, uma resposta que representasse muito mais do que a importância do “saber perder”, mas que explicasse o “porque perder de uma forma tão vexatória”, afinal, não sobraram dúvidas sobre as enormes diferenças que existiam entre as duas equipes. Ok, mas onde estava o problema? Num time de grandes nomes individuais, mas que pareciam atuar sem uma estratégia clara que os unisse por um mesmo objetivo? Numa liderança míope, fechada e enraizada em suas próprias verdades? Qual foi o motivo do tal apagão e por que todos dizem não saber explicar o inexplicável? Será que não existe mesmo explicação?
Normalmente encontramos mais de uma causa responsável por uma consequência, seja ela desejável ou indesejável como a que vivemos com a equipe brasileira de futebol, porém gostaria de dar foco especial á figura do líder, afinal, o que seria de um time, de uma equipe ou de uma empresa que busca o sucesso sem uma liderança eficaz? Mas atenção! Não estou falando do líder que abraça, afaga e enxuga lágrimas dos seus liderados, mas daquele que assume o papel de estrategista, ou seja, que direciona, que desenvolve o máximo do potencial da “equipe”, que explora complementariedades, que trilha caminhos vencedores e que sabe e tem coragem de mudar de rota quando as forças externas assim exigem.
SER UM ESTRATEGISTA
Muito do sucesso ou do fracasso de um líder está intimamente, e cada vez mais, ligado à sua capacidade de construir um caminho que o levará à outra margem do rio, com alguma segurança e ainda com fôlego suficiente para arriscar-se em novas travessias. Isso representa assumir a estratégia do negócio, ou seja, assumir a principal e mais influente função da empresa: a de estrategista.
O estrategista envolve as pessoas em torno de uma causa, de um propósito, e faz com que cada um da sua equipe enxergue “sentido estratégico” em suas atividades e funções. Ele conhece muito bem o setor onde atua e as forças que este exerce sobre seu negócio, constrói uma visão clara e é capaz de desenvolver todo um sistema de criação de valor, controlando-o, corrigindo-o, incentivando-o. E se, em algum momento, for necessário mudar de rota, é ele também quem deve ter a coragem de tomar essa decisão. Enfim, trata-se de um papel que não pode ser delegado a ninguém!
Recorrendo a alguns pensadores da gestão, Ram Charan, professor de Harvard e responsável pelo coaching dos mais importantes líderes empresarias do mundo, destaca a importância do líder entender e se antecipar as mudanças externas, traduzir estratégia em ações precisas, ter as pessoas certas nos lugares certos e de ser capaz de unir pessoas, estratégias e operações, para transformar estratégia em resultado.
Outra lição importante vem do trabalho realizado por Cynthia A. Montgomery, também professora de Harvard e responsável pelo programa de treinamento de executivos e empresários, o OPM (Owner/President Management), dessa mesma instituição.
Em seu livro O Estrategista, ela explica que confiança é importante, mas estratégia e liderança vão muito além de acreditar que uma visão ousada e apenas uma boa gestão podem superar praticamente todos os obstáculos. Uma de suas conclusões é que a maioria dos grandes estrategistas acaba tendo que lidar com um difícil paradoxo, que diz: mantenha-se em curso, reinvente-se!
Será que esses dois grandes estudiosos estavam pensando na nossa seleção quando escreviam sobre liderança? Ou será mera coincidência?
A ESCADA ROLANTE
Vivemos num mundo em que o futuro está cada vez mais próximo do presente e o presente se torna obsoleto da noite para o dia. A prática verdadeiramente atropela o conhecimento, que evolui a partir da observação de novas práticas. Arrisco dizer que vivemos numa nova era: a era da reinvenção.
Usando a metáfora da escada rolante, fica fácil entender que subir no sentido contrário ao seu movimento só será possível se você for mais rápido do que ela. Essa é a nossa realidade! Fazer o mesmo e na mesma velocidade com eficiência não é suficiente, apenas nos mantém no curso, ou talvez, nem isso. Porém, para sermos mais rápidos, precisamos nos reinventar e reinventar o nosso próprio negócio.
Talvez essa seja a explicação ainda não compreendida por aqueles que representam nossa seleção!
A boa notícia é que sempre é tempo para despertar, porém talvez já estejamos dois anos atrasados para a próxima copa, se considerarmos os seis anos de preparo da Alemanha para essa, que tinha tudo para ser a nossa copa! Vai Brasil!
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