A partir dos anos 90, as grandes empresas passaram a adotar medidas de transparência.


O mercado e os consumidores estão exercendo uma pressão crescente sobre as práticas das empresas em relação à manufatura de seus produtos e à chamada "pegada ambiental" – termo que resume o impacto ecológico de uma determinada indústria ou conglomerado. A preocupação com a origem dos produtos, com o caminho percorrido até a prateleira e com o prejuízo social e ambiental provocado já é parte do cotidiano do consumidor.

A partir dos anos 90, com um reforço considerável nas décadas seguintes, as grandes empresas passaram a adotar medidas de transparência e gestão com o propósito de transmitir a imagem de companhias sustentáveis ecologicamente. Em outra frente, elas passaram a ser responsabilizadas por ações de seus fornecedores. A própria legislação brasileira reconhece a "responsabilidade solidária" em vários aspectos – o que significa que empresas podem ser punidas por erros dos fornecedores. Mas os danos à marca podem ser mais pesados do que sanções econômicas.

Basta avaliar o impacto provocado por denúncias de trabalho análogo à escravidão em oficinas têxteis que forneciam roupas para marcas célebres, algumas de luxo. Nenhum consumidor deseja que sua experiência de compra se dê às custas do sofrimento de alguém ou da devastação de matas que abrigam espécies ameaçadas. Para evitar esse dano, as empresas estão apostando cada vez mais na gestão sustentável da cadeia de valor. Nesta publicação nós separamos dicas para a sua empresa ser mais sustetável.

"A gestão da sustentabilidade na cadeia de valor se dá quando a empresa passa a fazer a gestão estratégica dos impactos sociais e ambientais de matérias-primas e serviços, desde os fornecedores, subfornecedores e prestadores de serviços até o cliente final e etapas pós-consumo", explica a professora e consultora Cristina Fedato em artigo publicado no Instituto Ethos. Para dominar os processos que envolvem sua empresa, desde a obtenção de matérias-primas até o ponto de venda – ou até mesmo descarte do produto pelo consumidor –, são necessárias cinco medidas iniciais.

1. Conheça sua cadeia de suprimentos

Se antes a empresa apresentava a demanda para um potencial fornecedor e esperava que ele fosse capaz de cumprir com o acordo, hoje a preocupação inclui o "como" o parceiro irá cumprir o acordo. Estender essa preocupação para toda a cadeia de fornecedores requer inteligência estratégica e capacidade de desenhar e representar os processos. "Além disso, é na interface com parceiros de negócios que reside uma gama de oportunidades de negócios em sustentabilidade e inovação", enfatiza Fedato.

2. Estabeleça critérios

Como em qualquer processo de negociação, o que se obtém não é o que se quer, mas o que se negocia. A emrpesa que representa o elo principal da cadeia de valor tem poder para estabelecer padrões e requisitos mínimos para que uma outra empresa seja fornecedora. Uma grande rede de supermercados pode exigir aos produtores rurais que não utilizem agrotóxicos nos produtos, estabelecendo essa medida como padrão mínimo. A competitividade se encarrega de garantir os melhores fornecedores.

3. Avalie seus fornecedores

Programas de avaliações periódicas evitam transtornos como a queda da qualidade do produto e adoção de medidas prejudiciais à revelia do padrão exigido pela empresa. "Alguns temas que frequentemente surgem como relevantes para serem monitorados nas cadeias são relativos a condições de saúde e segurança no trabalho, grau de dependência do fornecedor em relação à empresa cliente, cumprimento da legislação por parte do fornecedor e combate ao trabalho infantil ou análogo ao escravo", elenca Fedato.

4. Desenvolva ações de capacitação

Se há escassez de fornecedores no mercado, uma saída é trabalhar ações de formação, capacitação e inovação junto aos atuais parceiros da empresa. "Junto aos processos de gestão de risco, a empresa deve ser estimulada a criar um plano de relacionamento com fornecedores, distribuidores e clientes, de modo a olhar para sua cadeia do ponto de vista da oportunidade e enxergar nos desafios da sustentabilidade as oportunidades de parcerias para inovação e criação de novos produtos e serviços", conclui a consultora.

5. Coopere com os concorrentes

Se existem interesses comuns entre empresas que fazem parte da mesma indústria, é possível colocar a concorrência de lado e implementar medidas conjuntas. Ações colaborativas têm apelo positivo junto ao público e podem aumentar o padrão da gestão sustentável das cadeias de valor, estimulando a inovação e a melhoria de processos e produtos.

São etapas básicas – o tema é amplo e estudos já vêm sendo desenvolvidos na área há pelo menos 40 anos. Mas, apesar da complexidade, desenvolver uma gestão sustentável da cadeia de valor é algo que deve ser considerado por dirigentes de empresas de qualquer porte. O consumidor do futuro já está de olho.

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