Em tempos onde a arte gera tanta polêmica, lembrei-me de uma performance feita pela Marina Abramovic em 1974 chamada Rhythm 0, onde ela se colocou à disposição dos expectadores durante seis horas sem interrupção.
No vídeo abaixo ela conta sobre a sensação de estar ali parada. A descrição da performance dizia: “Eu sou um objeto. Você pode fazer o que quiser. Eu assumo a responsabilidade por 6 horas.” Na sua frente havia uma mesa com vários objetos: penas, brincos, perfumes, facas e até uma pistola carregada com uma bala. No começo as pessoas fora delicadas e sensíveis: a enfeitaram, a beijaram e colocaram perfume… mas com o passar do tempo, foram se tornando cada vez mais violentas: a cortaram, tiraram peças da sua roupa e um homem chegou a apontar a arma para sua cabeça.
Ao término das seis horas, quando ela se movimentou e apenas olhou para o público, as pessoas saíram correndo da sala. Apenas não conseguiram confrontá-la como ser-humano.
Podemos pensar: “Nossa que horror! Nunca faria algo assim!” Ou mesmo: “Ela pediu para que isso acontecesse."
Considerar um ser (humano ou não) acontece em vários planos. Começa por perceber que ele tem sentimentos, que se importa, que há uma história por trás daquela feição que hora pode estar sorridente, hora pode estar tristonha. Passa por nos inserirmos na história desta pessoa, em nosso esforço para compreendê-la não só sob o nosso ponto de vista, mas também sob a perspectiva dela. É assim que começa um processo empático.
Em diversas situações, quando me deparo nas sessões de cocriação para resolver alguma questão importante para grupo, basta trazer a história envolvida, basta nos considerarmos como pais, irmãos, filhos ou avós. É o suficiente para que a fala do grupo mude, para que a intenção se transforme, para que a solução seja mais humana e inclusiva.
A violência física, verbal ou psicológica começa quando objetificamos o outro ser (humano ou não). O julgamento começa por não entendermos a história. Por não nos considerarmos parte. Por simplesmente nos sentirmos superior ao outro ser (humano ou não).
Nas relações de negócio, quando tomamos como base a “arte da guerra” fica difícil incluir este tipo de pensar e de se comportar. Mas podemos tentar, não?
Um abraço e até a próxima!
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