Metas e objetivos desafiadores podem definir o empreendedor


Há certo tempo eu li um livro chamado “100 Dias Entre Céu e Mar”. Trata-se de uma história real de um navegador brasileiro, provavelmente conhecido por você, chamado Amyr Klink. Ele relata, nesse livro, a incrível travessia do Atlântico Sul que realizou sozinho, em 1984, saindo do continente africano e chegando às praias do nordeste brasileiro em 100 dias. E o mais assustador, essa travessia foi realizada com um barquinho a remo. Isso mesmo, você não entendeu errado: um pequeno barco a remo.

Mas o que essa história tem a ver com o nosso contexto de negócios? A verdade é que muitas lições podem ser tiradas desse projeto, que levou dois anos para ser estruturado até que as primeiras remadas fossem dadas. Essa história passa pela definição da melhor rota, pelo projeto do barco, pelas estratégias de suprimentos, de comunicação, planejamento de contingências, análise do ambiente externo enfim, uma séria de questões que mostram a capacidade de um estrategista em desenvolver as condições necessárias para atingir objetivos aparentemente inalcançáveis.

É exatamente sobre esse ponto que quero chamar a sua atenção. A palavra “aparentemente” muda todo o conceito da frase e traz de maneira implícita para esse contexto a ideia de que muitos objetivos exigirão do profissional, seja ele um executivo, empresário ou empreendedor, pensar fora da caixa se quiser construir as condições necessárias para atingir seus objetivos mais desafiadores.
 
Até que ponto o objetivo que você está traçando para o seu negócio parece ser inatingível, como a ideia de superar as ondas e correntezas de um grande oceano, viajando de um continente ao outro, num pequeno barco a remo? E mais: o que você está fazendo ou pretender fazer para viabilizá-lo?

O fato é que a diferença entre traçar um objetivo facilmente alcançável e algo realmente desafiador pode representar a linha tênue que divide os projetos inovadores daqueles tidos como “mais do mesmo”. Nesse caso, não estou falando de inovar aos olhos dos clientes, mas da inovação na forma de desenvolver as condições necessárias para atingir seus objetivos.

A inovação pode assumir várias formas e nem sempre se refere apenas ao que todos estão acostumados, que é a inovação de produto ou serviço. Recorrendo novamente a Joseph Schumpeter, afinal recorri a ele também no artigo anterior, a inovação pode se configurar em novos produtos, novos métodos de produção, abertura de novos mercados, desenvolvimento de novos provedores de matéria-prima e insumos e até na criação de novas estruturas de mercado. Por tanto, inovar, muitas vezes, diz respeito à sua capacidade de desenvolver novos recursos e novas capacidades necessárias para entregar um valor superior, fruto de uma grande ideia, e, consequentemente, atingir seus mais desafiadores objetivos.
 
Na first class que gravei aqui para o meuSucesso.com sobre o case da JR Diesel que vocês certamente estão acompanhando, eu comentei sobre a importância do seu negócio oferecer uma proposta de valor inovadora, mas também da importância do desenvolvimento dos recursos e capacidades da empresa para sustentar sua vantagem competitiva. Ou seja, ser competitivo significa sair na frente, chegar mais longe, atuar de maneira única e diferenciada para atingir grandes objetivos. O fato é que, muitas vezes, para se chegar lá, é preciso quebrar certos paradigmas que impedem as empresas de pensar e agir de maneira diferente.

No mundo da navegação sempre acreditamos que barco não pode virar, não é mesmo? Mas como pode um pequeno barco a remo não virar dentro de uma tempestade no meio do oceano Atlântico? No caso do Amyr, o projeto do seu barco foi concebido para que pudesse virar a vontade, mas com a certeza de que não afundaria e que sempre voltaria à posição correta. Lembrando que nesse caso, o barco é um dos recursos para se atingir o objetivo traçado e não o produto final.

E no seu negócio, qual paradigma precisa ser quebrado ou desconstruído para que você possa atingir objetivos ainda mais audaciosos? Pense que o limite da sua capacidade de atingir objetivos maiores pode estar antes ou depois do limite dos seus concorrentes, e isso é o que vai definir quem sairá na frente e, certamente, quem ganhará o jogo.

 

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Flávio Cordeiro

Profissional com mais de 15 anos de experiência executiva nos segmentos editorial, eventos e educação executiva. Respondeu pelas áreas de marketing, planejamento e operações em empresas líderes de mercado como Folha de São Paulo, Valor Econômico e HSM do Brasil, onde foi responsável pelo planejamento estratégico, na função de diretor de marketing. Foi um dos executivos fundadores do jornal Brasil Econômico como diretor de mercado leitor, além de participar de projetos de reestruturação de canais e lançamento de novos produtos em âmbito nacional. Fundador da consultoria GD4 Estratégia &Gestão, que tem como foco o desenvolvimento de mentalidade e execução estratégica de empresas. Atua como palestrante, consultor e professor na área de estratégia, com participação nas bancas examinadoras de marketing, estratégia e TCC da ESPM. Mestre em Administração de Empresas pelo Mackenzie, com MBA em Gestão Empresarial pelo Ibmec-SP. Graduou-se em Engenharia de Produção pela FEI e participou das especializações em Comunicação Corporativa da Fundação Getúlio Vargas e Gestão de Mudanças da Business School São Paulo.