Desenvolver e aplicar políticas de inclusão aumenta a relevância das marcas


Quanto falamos em empreendedorismo social, podemos separar as empresas em três categorias.
1 – As que não se importam com o assunto;
2 – As que levam a questão a sério junto aos clientes e colaboradores
3 – Os negócios cujos produtos e serviços são inclusivos por natureza. Atualmente, desenvolver e aplicar políticas de inclusão aumenta a relevância das marcas e constitui um ativo valorizado por stakeholders.

Por outro lado, uma das motivações mais frequentes dos empreendedores é o desejo de criar uma solução para uma necessidade própria ou de alguém próximo. Não é surpresa, portanto, que várias oportunidades de negócios sejam percebidas e aproveitadas por pessoas com limitações motoras, de comunicação ou que apenas gostariam de consumir um produto saudável e sustentável.

Exemplos de Empreendedorismo Social

Para uma empresa tradicional investir em inclusão pode significar mais custos do que lucro – um carro adaptado, por exemplo, requer uma mudança nos padrões da linha de montagem, um novo design, anos de estudo e reengenharia. Para uma startup focada em um tipo específico de carros para deficientes, os custos são bem inferiores e os recursos podem ser captados através de investidores-anjo. Inclusão também é imprescindível na rotina de negócios. Conheça cinco empresas que nasceram a partir da necessidade de inclusão e que ajudam milhões de pessoas ao redor do mundo.

Kenguru

A norte-americana Stacy Zoern nunca teve a oportunidade de andar. Uma atrofia muscular de nascença fez com que sua mobilidade permanecesse limitada a uma cadeira de rodas elétrica e à ajuda de amigos e familiares – o que não a impediu de estudar Direito e atuar na área de patentes por um escritório de advocacia local. Também administrou uma galeria de arte junto com a mãe e escreveu um livro. Já teve a experiência de dirigir, mas não foi nada boa: aos 19 anos, pegou o volante de uma van modificada para deficientes físicos, perdeu o controle do veículo e bateu num parapeito. Não dirigiu mais desde então. “Existem 3,3 milhões de cadeirantes apenas nos Estados Unidos e o transporte é um grande problema para nós”, afirma.

Em um dia de trabalho qualquer, ela se deparou com um projeto baseado na Hungria, que mais tarde viria a se tornar o Kenguru: um carro elétrico projetado para apenas uma pessoa, completamente desenvolvido pensando nas necessidades dos deficientes físicos. Zoern resolveu investir: ajudou a levantar a grana necessária para a ideia e trouxe a sede da companhia, junto com os engenheiros responsáveis, para os Estados Unidos. Em 2015, a empresa foi adquirida pela KLD Energy Technologies. No momento, os interessados em comprar um Kenguru precisam se cadastrar em uma fila de espera.

Menor do que um smart, o carro tem o corpo desenvolvido em fibra de vidro e é capaz de atingir 96,5 quilômetros por hora. A alimentação se dá através de quatro baterias de 12 volts, e demora oito horas para recarregar completamente. “O modelo atual foi projetado para cadeiras manuais. Estamos desenvolvendo um modelo com joystick para cadeiras de rodas elétricas”, explica Zoern. A porta do carro se localiza na parte de trás e é aberta com um controle remoto. O veículo deve ser estacionado de frente para a rua, no estilo “garagem”, como uma motocicleta.

Supermercado colaborativo

The People’s Supermarket, que funciona como uma cooperativa, foi inspirado em um modelo de negócios que já opera desde 1973 nos Estados Unidos, o Park Slope. É óbvio que o lucro existe, porém dispensa o pensamento de que para obtê-lo, deve-se passar por cima de qualquer coisa – incluindo sustentabilidade e qualidade de vida dos empregados e clientes. “Nossa visão é criar uma empresa social e sustentável que vise crescer e obter lucro operando dentro dos valores baseados no desenvolvimento e coesão da comunidade” afirma Paul Aiken, um dos administradores do TPS.

Qualquer membro da comunidade pode trabalhar no TPS, contribuindo com 25 euros por ano e trabalhando 4 horas por mês. Dessa forma, ele ganha 20% de descontos em todas as compras. “O supermercado funciona como uma cooperativa, o que significa que os clientes são os donos do negócio”, explica Aiken. Atualmente a empresa conta com 24 membros fixos e cerca de 120 colaboradores-clientes.

Todos os produtos são comprados de fornecedores locais e de confiança. O objetivo é favorecer o desenvolvimento de uma relação próxima com os fornecedores da Inglaterra, sobretudo das proximidades de Londres. Isso evita a concorrência com produtos estrangeiros, valoriza a movimentação financeira local, gera emprego e renda e torna possível aos consumidores terem acesso a produtos mais saudáveis.

O negócio é voltado para a otimização do consumo e redução do desperdício. Supermercados tradicionais cortam os preços dos produtos drasticamente quando o prazo de validade está acabando, para tentar se livrar do estoque. Quando não consegue, a única saída é se livrar, jogar no lixo – muitas vezes lotes inteiros. Na cooperativa, essa não é uma alternativa a se considerar: “preparamos refeições a partir da comida que está próxima de vencer; o que não pode ser ingerido, passa por um processo de compostagem”, diz.

Ah, e se é para ser sustentável nos processos, os produtos também precisam sê-lo. Nada de produtos notadamente nocivos à saúde humana, principalmente cigarros. O The People’s Supermarket optou por não disponibilizar o produto nas prateleiras.

Mobiliário inclusivo

Utilizar madeira reciclada na construção de móveis domésticos não é exatamente uma novidade. Brian Preston, fundador da Lamon Luther, empresa baseada em Atlanta (EUA)decidiu apostar em uma ideia mais ousada e inclusiva: contratar moradores de rua para ajudar na construção das peças. Ele próprio já viveu a experiência de perder tudo quando sua empresa de construção e reformas foi atingida diretamente pela crise econômica e fechou as portas.

Um dia, observou uma vila repleta de tendas ocupadas por moradores de rua e foi alertado para o perigo de caminhar por aquele lugar. “Esses caras precisavam de esperança, de uma segunda chance para ajudarem a si próprios. Não somos uma organização de caridade ou sem fins lucrativos. Eu queria criar uma empresa onde esses caras pudessem trabalhar com o que soubessem”, conta. Preston decidiu então oferecer essa oportunidade. As peças são fabricadas com ferramentas tradicionais e técnicas rudimentares, porém o valor intrínseco em cada uma delas vai muito além da sua utilidade ou papel na decoração.

“Se Brian não tivesse me dado um trabalho eu não sei onde eu estaria. Eu nunca vou voltar para a rua. Agora tenho um trabalho onde eu possa dormir melhor. Eu posso tomar banho e ter acesso à água corrente. Os meus filhos estão felizes por mim, agora que eu tenho um emprego”, afirma Scottie, um dos carpinteiros que trabalha na Lamon Luther. Cidadania e qualidade de vida não têm preço, mas têm valor. “Esse é o tipo de coisa que vemos por aqui, vemos famílias restauradas, homens se tornando pais para seus filhos, é uma coisa maravilhosa”, conta Brian. Confira o vídeo com a história da empresa.

Los Perejiles

A entrada de pessoas portadoras de deficiência intelectual no mercado de trabalho sempre é complicada, mesmo quando há a mediação de escolas e cursos específicos – no Brasil, inclusive, é obrigatório por lei que empresas com mais de 100 funcionários tenham pelo menos 2% de pessoas com síndrome de down nos quadros. Um estudo da consultoria McKinsey&Company apontou que cinco características comuns das pessoas portadoras da condição têm impacto direto na saúde organizacional.

Na cidade de San Isidro, Argentina, seis jovens portadores de Síndrome de Down decidiram criar a própria oportunidade e abrir uma pizzaria focada em buffett de eventos, a Los Perejiles. Os jovens frequentavam uma escola especial que prepara para o mercado, mas acabariam acomodados em um cargo sem possibilidade de evolução.

A empresa foi fundada em 2014 e, com dois meses de funcionamento, já tinha fechado negócios para servir em 24 eventos. Os próprios jovens organizam a rotina de produção e trabalham com ferramentas e ingredientes próprios. Depois do evento, eles deixam tudo limpo antes de levantar a barraca e partir para outro serviço. A empresa é apoiada por um projeto chamado “Sumando”, um trailer que emprega voluntários também com sídrome de down.

“Los Perejiles começou a nascer quando expomos para as mães desses meninos as dificuldade do trabalho, porque os meninos estavam indo para um colégio especial onde os formam supostamente para o mercado de trabalho, mas logo eles acabam parando por ali mesmo”, explicou Telam Lopez, um dos gestores do projeto.

Ficou interessado em conhecer o serviço dos Los Perejiles? Dá uma olhada na fanpage.

Prodeaf

Há exatamente dez anos a Língua Brasileira de Sinais (Libras) passou a ser considerada por lei o segundo idioma oficial do país (Lei 10.436/02). Criada especificamente para atender às necessidades comunicacionais das pessoas com um determinado grau de deficiência auditiva, o idioma atualmente cria uma grave barreira linguística. Segundo dados do último censo populacional do IBGE, cerca de 2,6 milhões de pessoas declaram sofrer de dificuldade auditiva severa. Outros 7,2 milhões possuem algum grau de surdez.

Essa fatia da população, muitas vezes, não cresce aprendendo o tradicional português nas escolas, deixando a barreira entre os deficientes auditivos e os falantes do idioma ainda maior. Além disso, intérpretes são poucos, embora exista um decreto instituindo a língua como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores e licenciaturas. No entanto, se depender da iniciativa de uma startup pernambucana, esse panorama deve mudar em breve. A Proativa Soluções desenvolveu um aplicativo para celular que permite o contato entre uma pessoa com problemas auditivos e aqueles que não possuem limitações.

Chamado de ProDeaf, o conjunto de programas é capaz de fazer a tradução da Libras para o português e vice-versa. No primeiro caso, o dispositivo lê através da câmera do celular os movimentos do interlocutor com as mãos e interpreta como som. Isso possibilita desde uma conversa cara a cara até o envio de SMS e ligações telefônicas. Já no segundo caso, a voz é interpretada e convertida em gestos através de um assistente virtual. “Contamos com uma equipe multidisciplinar para desenvolver o aplicativo, como programadores, linguistas, designers e especialistas em Inteligência Artificial”, explica o mestre em Ciências da Computação João Paulo Oliveira, um dos fundadores da Proativa Soluções.

A empresa também dispõe de uma aplicação web que pode ser utilizada nos websites para traduzir o conteúdo automaticamente para Libras.

Falamos mais sobre marketing e empreendedorismo social em nossa plataforma, no Estudo de Caso de Rony Meisler, fundador do Grupo Reserva. Ele conta como a marca usou a sua influência para se aproximar de jovens carentes. Aproveite os 7 dias grátis do meuSucesso e aprenda mais sobre esse tema. Começar meus 7 dias grátis.