Algumas ideias têm uma força estranha. Em um dia qualquer do ano 2000, no meio de uma aula do curso de Administração, tive a ideia de criar um website que servisse de ponto de encontro para todas as pessoas interessadas em Administração e suas áreas afins. Desse insight nasceu o Administradores.com algum tempo depois.
Aquela simples ideia definiu praticamente tudo o que eu viria a fazer depois em minha vida. Para estar à frente de um portal que pretendia ser a porta de entrada digital para o mundo da Administração, eu precisava, primeiramente, entender a própria Administração. Embora já fosse um ótimo aluno, a partir daquele dia passei a me dedicar muito mais ao curso, passei a ler muito mais, a fazer cursos por fora e – depois de terminada a faculdade – embarquei em um MBA e em um Mestrado mais na frente.
Durante um bom tempo, acabei me dedicando a várias coisas ao mesmo tempo. Por exemplo: durante a graduação em Administração, conciliava ainda outra em Direito. Quando cursava o Mestrado, comecei a dar aulas de diversas disciplinas de Administração. E, no meio disso tudo, havia o Administradores.com, que demandava boa parte do meu tempo e me obrigava a estender as horas do dia madrugada adentro (e aqui cabe um agradecimento formal à minha esposa por sua inestimável ajuda com as centenas de e-mails diários do site. Muito obrigado!).
Em 2007, depois de ter concluído toda essa jornada, decidi que era hora de me dedicar exclusivamente ao Administradores. Estava dando aula em uma faculdade e pedi demissão. Totalmente focado, havia decidido que nada no mundo me desviaria desse foco.
Os resultados começaram a aparecer rapidamente. Primeiro: saímos do home office para uma sala comercial. Contratamos as primeiras pessoas. A audiência começou a crescer de forma exponencial e também pintaram vários contratos de publicidade. Foco passou a ser não apenas um lema, mas um verdadeiro mantra.
Até que apareceu um professor gringo de uma renomada universidade americana. O sujeito queria desenvolver uma pesquisa sobre empreendedorismo comigo. Era o pontapé inicial para um doutorado sob sua orientação. E aí comecei a me preparar para Gmat, Toefl e toda aquele papagaiada que exigem para uma pós nos Estados Unidos.
O professor marcou um encontro comigo em fevereiro de 2008. Para não passar vergonha falando aquele inglês macarrônico, eu e minha esposa decidimos fazer um curso intensivo do idioma por lá antes do encontro. Agora é que vem a parte boa da história.
Pagamos o curso de inglês, a acomodação em uma casa de família e, por fim, fomos tirar o visto no consulado americano. Você já deve ter visto esse filme antes: um casal jovem, na casa dos vinte e poucos anos, pouco dinheiro no banco, com toda pinta de quem quer tentar a vida no país do Tio Sam. Resultado: visto negado.
Existem vários ditados que explicam o acontecido, como o famoso "Deus escreve o certo por linhas tortas". Também gosto muito de uma frase do Dalai Lama: “às vezes, não conseguir o que você quer é uma tremenda sorte.”
E foi realmente uma grande sorte. Devo muito ao cara do consulado que não engoliu a nossa história (embora fosse totalmente verdadeira!). Se tivéssemos ido para os Estados Unidos naquele ano de 2008, as coisas teriam tomado um rumo totalmente diferente por aqui. Provavelmente, eu teria seguido para o doutorado por lá, 4 ou 5 anos longe do Brasil, e o Administradores certamente teria morrido na casca.
Muitas vezes fazemos escolhas que nos tiram do caminho correto. E muitas vezes a própria vida – e não nós mesmos – se encaminha de nos recolocar nos trilhos do nosso verdadeiro destino. Podemos nos frustrar por não atingirmos esse ou aquele objetivo, ficamos chateados, mas mais na frente a aparente derrota se revela como um fator crucial para a nossa vitória.
Quer um conselho? Não se lastime tanto pelos planos que não deram certo ou pelas oportunidades que você deixou de agarrar. Com o tempo, aprendemos que é necessário dizer não para algumas das propostas que nos aparecem, por mais interessantes que sejam à primeira vista. E, enquanto não aprendemos, as linhas tortas divinas se encaminham de nos mostrar a direção certa.
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