A essência de uma empresa está relacionada intimamente aos princípios e comportamentos do fundador do negócio


Ao longo da nossa vida, debatemos a importância de sonhar, de correr atrás dos nossos sonhos, mas sem nunca perder a nossa essência, a nossa verdade. Desde a nossa infância, passando pela juventude, até chegarmos na fase adulta, vemos o esforço dos nossos pais para nos passar princípios, valores e ensinamentos que nos mostrem a importância de termos uma razão de ser, de existir e de sabermos aonde queremos chegar, de forma a nortear o nosso próprio desenvolvimento. Afinal, a maneira como conduzimos nossas vidas determinará aonde poderemos chegar, não é mesmo? Creio que esta seja a grande questão da nossa existência!

Analogamente, essa também é a grande questão de empreendedores que buscam o crescimento do seu projeto empresarial, ou seja: como expandir o negócio sem perder a sua essência, traduzida em termos organizacionais como o propósito da empresa, seus princípios e valores, e também a visão de futuro, que oferece direção e alinhamento de todos os esforços.

Eu costumo dizer que essas são as duas grandes habilidades de um empreendedor de sucesso, ao logo das várias fases de desenvolvimento do seu projeto, que é conseguir manter a sua essência e saber aonde quer chegar.

Porém, além de garantirem foco e direção, a essência e a visão de futuro devem ser o alicerce de muitas outras habilidades que todo empreendedor precisa ter na construção da sua jornada de crescimento, dentre as quais, eu destacaria algumas que considero essenciais.

A primeira diz respeito ao conhecimento que ele deve ter do seu modelo de negócio, pois é através dele que o empreendedor colocará em prática a sua essência e o seu projeto, refletido pela entrega de uma proposta de valor única, que atenda às reais necessidades de um público específico, e pelo desenvolvimento dos recursos e das capacidades essenciais do negócio, responsáveis pela criação do valor percebido pelo cliente. Uma referência importante sobre esse tema é Alex Osterwalder, autor de vários livros, entre eles, Business Model Generation, cuja leitura eu recomendo.

Mas, se o entendimento do modelo de negócio é a base para a constituição de um novo projeto, por outro lado, é também através da sua evolução que desenvolvemos uma rota consciente de crescimento. A segunda habilidade nasce justamente desse ponto, que é nunca se contentar com o “mais do mesmo”. Estou falando aqui da sua capacidade de inovação, que, segundo uma das principais referências conceituais no tema, o Manual de Oslo, se traduz não apenas em termos de produtos e serviços, mas em termos de processos, métodos organizacionais e na forma de engajamento do cliente, ou seja, estou falando daquelas inovações que garantem otimização dos custos, ganhos de qualidade, aumento de desempenho e foco na evolução do relacionamento com os seus clientes.

O terceiro aspecto do perfil empreendedor de sucesso diz respeito a sua habilidade de conduzir a estratégia do negócio na mesma velocidade do seu mercado. Vivemos atualmente uma realidade que exige cada vez mais agilidade estratégica das empresas. Pegando carona nos estudos de Yves Doz, um dos grandes nomes da gestão mundial, professor emérito de gestão estratégica do INSEAD, essa agilidade deve ser construída a partir da sensibilidade que a empresa tem sobre as variações importantes do mercado e da maneira como enxerga e enquadra novas oportunidades, da sua capacidade de mobilização e redirecionamento de recursos em função de novas demandas e então de garantir a unidade de toda equipe em torno dos novos desafios, levando assim a decisões de interesse comum e ao compromisso com o resultado dessas decisões.

O fato é que no atual contexto de grandes mudanças e transformações em que vivemos, os ciclos estratégicos estão cada vez mais curtos e mais rápidos, exigindo cada vez mais dos líderes e empreendedores competências estratégicas para a adaptação do negócio, garantindo constante evolução, sem perder o foco e essência.

Organizando os pontos tratados até aqui, se enterdemos bem o nosso modelo de negócio, de modo a garantir clareza às iniciativas de inovação em prol da evolução da empresa, a partir de uma estratégia que conecta o negócio com o seu mercado, a próxima habilidade fundamental que um grande empreendedor precisa ter é a capacidade de tomar decisões do tamanho do seu negócio.

Aqui cabe ressaltar que a evolução da empresa exigirá do seu fundador decisões cada vez mais complexas, com maior grau de incerteza e, consequentemente, maior risco, além do envolvimento cada vez maior de recursos, características intrínsecas das decisões estratégicas. Só por esses motivos, já se justifica total atenção do empreendedor ao seu processo de decisão estratégica, porém há de se levar em consideração que com o crescimento, decisões importantes também precisam ser delegadas e aqui surge mais um importante desafio que é a gestão de conflitos e dos aspectos comportamentais e políticos que um processo de decisão estratégica demanda.

Nesse momento, a manutenção da essência do negócio e sua disseminação por toda organização contribuem sobremaneira na construção de um sistema de influência ideológica e institucional que conduz os tomadores de decisão à busca por soluções integrativas, que visem o interesse comum de toda organização, na direção de sua visão de futuro.

Por fim, mas não menos importante, vem a habilidade que o empreendedor precisa ter de não procrastinar aquilo que precisa ser realizado. Na verdade, estou falando não só da sua capacidade de “execução”, mas da capacidade que toda a sua equipe deve ter de “fazer acontecer”. Um dos grandes desafios da gestão de empresas, principalmente em função do crescimento, é colocar em prática as decisões tomadas, muitas vezes porque nem sempre quem toma as decisões é quem as implementa, principalmente no caso das decisões estratégicas, o que exige um importante alinhamento estratégico entre todas as áreas da organização.

Enfim, eu poderia me aprofundar muito em cada um dos temas tratados acima, mas esse não é o objetivo. O mais importante é você entender a complementariedade que esses assuntos (modelo de negócio, inovação, estratégia, decisão e execução) possuem entre si e a influência que a manutenção da essência e da visão de futuro pode exercer sobre cada um deles, até porque vem daí o foco, a direção e a convergência estratégica necessários para o crescimento e sucesso do seu negócio.

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Flávio Cordeiro

Profissional com mais de 15 anos de experiência executiva nos segmentos editorial, eventos e educação executiva. Respondeu pelas áreas de marketing, planejamento e operações em empresas líderes de mercado como Folha de São Paulo, Valor Econômico e HSM do Brasil, onde foi responsável pelo planejamento estratégico, na função de diretor de marketing. Foi um dos executivos fundadores do jornal Brasil Econômico como diretor de mercado leitor, além de participar de projetos de reestruturação de canais e lançamento de novos produtos em âmbito nacional. Fundador da consultoria GD4 Estratégia &Gestão, que tem como foco o desenvolvimento de mentalidade e execução estratégica de empresas. Atua como palestrante, consultor e professor na área de estratégia, com participação nas bancas examinadoras de marketing, estratégia e TCC da ESPM. Mestre em Administração de Empresas pelo Mackenzie, com MBA em Gestão Empresarial pelo Ibmec-SP. Graduou-se em Engenharia de Produção pela FEI e participou das especializações em Comunicação Corporativa da Fundação Getúlio Vargas e Gestão de Mudanças da Business School São Paulo.