“Não temos por que esconder nossas emoções. Elas são nossa própria vida, uma espécie de linguagem na qual expressamos percepções internas… São fortes, intensas, mas não imutáveis” (Boack,2002). Para começar farei um breve introdução com o objetivo único de clarificar o que, para mim, as palavras “comportamento” e “emoção” significam.
Comportamento é a forma como uma pessoa age frente a estímulos sociais, sentimentos e necessidades (ou uma combinação entre eles).
“Emoção é uma resposta química e neural que estabelece um padrão de comportamento diferente” (Damásio, 2000). Dito isto, compartilho com vocês minhas inquietações e descobertas, pois quando recebi o convite para escrever este artigo a primeira pergunta que me veio à cabeça foi: e o que é medo?
Medo é uma emoção e como tal constitui um aspecto complexo presente nos seres humanos. Muitas são as teorias e hipóteses sobre ele, mas meu objetivo aqui é mais simples, quero apenas descobrir se somos capazes, através de nossas ações, de superar e vencer nossos medos.
Estudando descobri que as emoções, incluindo o medo, são produzidas no cérebro, isso mesmo, são as estruturas do Sistema Límbico (sistema das emoções) que conectadas aos circuitos neurais respondem pelas nossas mais diversas emoções. Em especial, a relação entre a amígdala (pequena estrutura em forma de amêndoa, responsável pela detecção, geração e manutenção das emoções relacionadas ao medo) e o hipotálamo (pequena e importante parte do cérebro ligada ao sistema endócrino que atua sobre o sistema nervoso autônomo e sistema límbico) estão intimamente ligadas às sensações de medo e raiva.
“Não temos por que esconder nossas emoções. Elas são nossa própria vida, uma espécie de linguagem na qual expressamos percepções internas … são fortes, intensas, mas não imutáveis” (Bock,2002). De acordo com a neurociência, medo é uma sensação que proporciona um estado de alerta demonstrado pelo receio de fazer alguma coisa, geralmente por se sentir ameaçado, tanto física quanto psicologicamente.
Complementando, a neurociência afirma que o medo é uma reação obtida a partir do contato com algum estímulo físico ou mental (interpretação, imaginação, crença) que gera uma resposta de alerta ao organismo, que libera hormônios (adrenalina, cortisol) que preparam o indivíduo para lutar ou fugir. E a resposta imediatamente anterior ao medo é denominada ansiedade.
Caramba, e quem hoje em dia não é ansioso??? Então todos somos medrosos? Receio que sim, pois o medo é um sentimento natural com a qual já nascemos, pois está atrelado ao instinto de sobrevivência.
Os estudiosos da psique humana dizem que só existe uma forma de ultrapassar nossos medos: enfrentando-os. Sendo assim, faz todo sentido afirmar que: AGIR CURA O MEDO!
Mas ainda há a segunda e inquietante questão que apareceu na minha mente: devemos mesmo nos “curar” de nossos medos? Afinal, ter medo é algo muito importante e valioso, provavelmente se não tivéssemos medo não sobreviveríamos a primeira infância.
O medo nos protege! Verdade! Entretanto, esse mesmo medo que protege, também é capaz de bloquear, de impedir realizações, de nos prejudicar por não nos permitir fazer algo, por isso torna-se importante a “cura”.
Existem muitos tipos de medo, por isso a terceira, quarta, quinta e mais questões pipocaram como num carrinho na frente do cinema… De quais medos estamos falando? Medos racionais ou irracionais? Será que esse tipo de qualificação está correta? Quais serão os medos que nos paralisam? Medo do escuro, medo de um animal, de gente, de multidão, de conflito, de enriquecer, da fama, da rejeição, de palhaço, de errar, do sucesso, de morrer, de não dar conta, das armadilhas da vida, das mentiras, de expressar sentimentos, da visibilidade, do poder, dos próprios comportamentos, medo de sentir medo…
Compreendi que de fato, não importa a espécie ou a qualificação do medo, pois o medo em si é algo interno a nossa mente, não é algo real ou concreto que você possa ver ou tocar. Com já foi dito acima, nossos medos são produtos mentais As pessoas podem apresentar medos reais, como por exemplo, o medo de ser picado por um animal peçonhento perigoso ou pode ter medos absolutamente intangíveis, como por exemplo, o medo de não ser amado. Existem também os medos culturais e os medos aprendi- dos, sim você aprende a sentir medo.
Vou contar uma breve história que ilustra isso: Certa vez, trabalhando com uma coachee (a pessoa que recebe os ensinamentos do coach), eu pedi a ela que lembrasse de uma situação onde tivesse superado os próprios limites com sucesso, uma situação onde tivesse conseguido alcançar o que queria usando o máximo de seus recursos pessoais, uma situação onde encontrou alternativas para vencer seus medos.
Como vencer os medos? Aprenda com uma história real!
Não demorou para ela lembrar de uma história muito interessante, a qual vou compartilhar com vocês agora.
DCZ contou que tinha muito medo de gatos, que chegava a ser apavorante estar em um lugar e um gato aparecer. Ela conviveu com isso durante sua infância, adolescência e início da vida adulta, até os 22 anos de idade. Disse que quando tinha 20 anos ela conheceu um rapaz e começou a namorar, o relacionamento foi ficando cada vez mais sólido e eles resolveram envolver suas famílias.
No dia em que ela foi pela primeira vez na casa do rapaz quase morreu de pavor, pois sua futura sogra possuía oito gatos. Ela passou mal, teve taquicardia, ficou transpirando gelado, como se fosse morrer mesmo. Deram a ela toda assistência e tiveram que prender os gatos para que a visita inicial pudesse transcorrer.
Contudo, sua sogra deixou claro que não faria isso sempre, “afinal os gatos eram parte da família”. A pobre passou a ter pavor de ir à casa do namorado, mas eles se gostavam muito e a convivência seria inevitável. Cada vez mais o relacionamento ficava sério e, cada vez mais ela queria não sentir aquele pavor, então foi procurar ajuda especializada, pois nem ao menos sabia por que sentia tanta repulsa pelos bichanos.
Ela jamais havia tido algum episódio desagradável com algum felino, por isso não tinha a menor ideia de onde poderia vir aquela sensação. Decidiu buscar ajuda e descobriu em um trabalho psicoterapêutico, que seu medo havia sido “herdado” da sua mãe (essa, sim, com pavor de gatos por ter sido atacada por um persa quando menina). Disse que aprendeu a ter medo de gatos ao ver sua mãe passando mal quando se deparava com um e ouvindo sempre que ela, a mãe, odiava os gatos, que eles eram animais traiçoeiros, malvados e mais uma série de coisas ruins sobre eles.
Queria muito se livrar dessa herança e passou a pensar em alternativas que pudessem permitir a ela ressignificar sua relação com os esses animaizinhos. Como queria se livrar do seu medo decidiu agir, fazer algo na direção pretendida e passou a estudar e ampliar seu conhecimento sobre gatos, seus hábitos, características e outros.
Aos poucos, começou a lidar com eles de uma forma diferente. Primeiro confirmando, de maneira racional, a si mesma que os gatos não fariam mal a ela todas as vezes que se encontrava com um, ou seja, passou a fixar uma nova crença sobre gatos. Depois experimentou passar a mão no pelo de um deles e gostou da sensação, então ela já pensava algo diferente sobre gatos e passou a sentir algo diferente também. Foi assim, passo a passo, vencendo cada pequeno e importante desafio, que ela passou a se comportar de uma maneira diferente. Isso permitiu que ela estabelecesse um novo padrão até que passou a conviver em harmonia com os bichanos. Até hoje ela não é amante de gatos, mas o medo apavorante foi removido quando ela decidiu fazer algo na direção pretendida.
Já sei, os mais curiosos devem estar se perguntando se ela se casou e ganhou como sogra a dona dos oito gatos, certo? Sim, ela se casou e frequenta com regularidade a casa da sogra.
Essa história ilustra nossa capacidade de reprogramar nosso cérebro para que ele crie novas conexões, e a boa notícia é que, para identificar, reconhecer e enfrentar nossos medos, temos a nossa disposição um vasto conjunto de alternativas que nos ajudam a lidar com eles ou até removê-los.
Entretanto isso significa mudar e a maioria das pessoas tem medo do novo e, em geral, ele está associado a um medo mais profundo que é o medo de fracassar. Sendo assim, ao querer superar um medo podemos nos deparar com outro ainda maior, por isso torna-se imperativo o uso da coragem (cuore – coração + agis – ação) que é, em sua essência a capacidade do ser humano agir em acordo com o que acredita, em acordo com seus valores.
É necessário coragem para dar o primeiro passo. Nossos medos podem ser controlados e removidos quando além da coragem, também somos autoconfiantes. Um bom caminho para isso é a ampliação da consciência sobre nós e do que queremos, é fazer boas escolhas colocando foco naquilo que desejamos obter (ao invés de iluminar o problema vamos iluminar as possibilidades de solução) e finalmente agir.
Creio que acabo de falar de Coaching, afinal nos propomos justamente a apoiar nossos clientes para que ampliem a consciência sobre si mesmos e seu entorno, os desafiamos a buscar caminhos alternativos que os levem onde pretendem chegar, incentivamos que olhem para o futuro iluminando seu pódio pessoal e estimulamos que se compro- metam com ações concretas que solidifiquem o novo padrão almejado. Acreditamos que os pensamentos acionam as emoções e estas, materializam as ações.
Fazer acontecer é a chave mestra da transformação que que- remos ver em nós. E você o que pensa sobre tudo isso? Identifique alguns dos seus medos, encare-os, enfrente-os e não deixe que eles te controlem, você é muito maior e muito mais poderoso do que seus medos. Estabeleça, agora mesmo, um compromisso consigo, pense numa estratégia e coloque-a em ação. Acredito que sua vida irá se tornar muito mais saborosa.
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