Marcos Franzolim comenta como um storytelling que fala somente da perfeição peca exatamente por isso. O conflito é o tempero de toda trama


Trabalhar com storytelling corporativo tem diversas dificuldades. Principalmente porque a técnica demanda um certo desprendimento pela parte da empresa que resolve apostar nela. Ela tem um caráter mais emocional do que racional, e muitas vezes isso pode ser uma surpresa para os menos avisados.

No meu caso e da MonkeyBusiness, os storytellings estão voltados principalmente para apresentações. Escolhemos a técnica quando identificamos algum problema de comunicação nos parâmetros iniciais de criação da ferramenta: pode ser um assunto difícil, um público que precisa se emocionar ou para aqueles que precisam reter a atenção de uma plateia difícil desde o início. São diversas as situações que avaliamos como positivo o uso do storytelling, mas uma característica essencial dele invariavelmente gera discussão: o conflito.

O que é o conflito em uma história? Ele é a dificuldade que a personagem principal deve enfrentar. Pode ser fugir de um bando de pássaros raivosos, conquistar o amor da sua vida que vai se casar com outra pessoa, vencer o bullying dos meninos do Cobra Kai, encontrar seus pais biológicos, etc. Mas o conflito não está lá por acaso. Ele tem uma função muito importante na história: transformar o personagem e criar conexão com o público.

O protagonista deve passar pelo conflito e se transformar em outra pessoa depois disso. Porque ele teve que vencer uma força oposta, teve que se superar, ser melhor, e com isso, se transformou em uma personagem melhor. Vivemos isso juntos, aprendemos com a passagem e nos conectamos emocionalmente com a história. Só o conflito nos dá a chance de torcer por alguém, porque o coloca em prova. E se você está torcendo pelo protagonista, você estea emocionado e esse é um objetivo importante para a criação de um storytelling.

O que acontece em muitos storytellings corporativos é que as empresas querem fugir dos conflitos. Existe um consenso de que conflito quer dizer problema, e devemos afastar essa palavra do repertório da empresa. O resultado são histórias criadas sem conflito, o que acaba gerando histórias ruins. Chatas. Planas. Sem emoção. Algo do tipo:

Fulano acordou pela manhã e foi correr no parque. Ele estava com sede e resolveu tomar um delicioso e refrescante refrigerante (insira sua marca aqui). Ao terminar, pegou seu carro (insira sua marca aqui), passou no supermercado (insira sua marca aqui), comprou os ingredientes para fazer uma janta especial para sua esposa, chegou em casa, eles jantaram e ficaram felizes. FIM.

Péssimo, não? Então o problema toma outra proporção: uma empresa que buscou um storytelling para emocionar e conectar-se com o seu público tem uma peça ruim, que não gera resultados. No final das contas, chega-se a conclusão que storytelling não funciona.

Pense naquela viagem que você fez e deu tudo errado. Você perdeu o trem, o vôo atrasou, dormiu no aeroporto, se perdeu, choveu. Essa você conta para todo mundo. Porque conflitos nos conectam. E é por isso que ele é importante em uma história, seja ela corporativa ou não. Lembre-se que o seu público não vai gostar de uma história ruim só porque ela foi criada por uma marca. 

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Marco Franzolim

É sócio-diretor de comunicação da MonkeyBusiness, agência de apresentações, e professor, ministrando aulas na ESPM e cursos in company para empresas como Banco do Brasil, SEBRAE, GM, Red Bull, Via Varejo, Boehringer, Telefônica, Almap BBDO e JWT. Sua experiência no mercado inclui mais de 2500 apresentações para mais de 400 empresas, entre elas as maiores empresas do Brasil como AmBev, Visa, Natura, Danone, Nestlé, Coca-Cola, Bradesco, Globo, Nike, Santander entre diversas outras.