Até que ponto o seu novo empreendimento oferece algo realmente novo para o mercado?


Mais do que um traço de personalidade específico, o que os empreendedores possuem em comum é o comprometimento pela prática sistemática da inovação, portanto a inovação é a função específica do empreendedorismo.

O que você acha dessa afirmação? Concorda com ela? Será que faz sentido colocar inovação e empreendedorismo de maneira tão conectada? Enfim, quem fez essa proposição foi ninguém mais do que Peter Drucker, um dos maiores estudiosos sobre gestão, reconhecido como o pai da administração moderna no mundo, em sua obra Innovation and Entrepreneurship – Practice and Principles, publicada em 1985. Mas o que significa oferecermos uma nova resposta ou uma nova solução para uma necessidade existente no mercado ou até mesmo uma solução inovadora para um problema ainda não resolvido da sociedade?

Esse deveria ser o motivo principal da idealização de um novo negócio? Se pararmos para pensar nas premissas que mantém uma empresa sustentável no longo prazo, principalmente aquelas empresas atuantes em mercados dinâmicos de rápidas mudanças, elas girarão sempre em torno da oferta de novas soluções, novos designs, novas funções para o atendimento de novas exigências do mercado em que atuam ou até mesmo para a criação de necessidades que seus clientes sequer as percebiam antes. Então, por que um novo negócio poderia abrir mão da inovação? Acredito que, a exemplo do que sentenciou Drucker, o empreendedor que não traz algo inovador está fadado a ser apenas mais um, a passar despercebido, ou, o que é ainda pior, a ser ignorado. Afinal, o que levaria alguém a acreditar em uma proposição de valor não inovadora, a ponto de optar por ela em substituição a uma solução conhecida e já estabelecida no mercado?

Joseph Schumpeter, economista austríaco que influenciou muito as teorias da inovação, já na década de 50, argumentava que o desenvolvimento econômico é conduzido pela inovação, a partir de um processo dinâmico em que as novas tecnologias substituem as antigas, processo esse que ele chamou de “destruição criadora”. Schumpeter propôs uma lista de cinco tipos de inovação: introdução de novos produtos; introdução de novos métodos de produção; abertura de novos mercados; desenvolvimento de novos provedores de matérias-primas e insumos; e a criação de novas estruturas de mercado em uma indústria.

Ora, a grande questão nessas colocações está justamente na palavra “novo”. O novo determina a inovação, o algo diferente, a nova forma de fazer, de pensar, a destruição de algo existente mediante a oferta de algo criativo. Então, eu lhe pergunto novamente: será que seu empreendimento possui algo “novo” a oferecer para o mercado? 

Voltando a sua proposta de valor, ela pode representar um novo desempenho para o mercado, uma nova forma de personalização, um novo design, uma nova condição de preço ampliando as fronteiras da demanda, pode representar uma nova forma de acesso, uma conveniência, um novo modelo de usabilidade, enfim. Seja qual for a proposta de valor do seu negócio, pense que a razão dela ser aceita dependerá sobremaneira da capacidade dela oferecer (e ser percebida como) algo realmente novo para seu potencial cliente.

No final do ano passado, a Exame publicou uma matéria trazendo nove startups de sucesso, destacando-as como sendo as que ofereciam uma solução inovadora para o mercado, resolvendo problemas que muita gente tem. Como exemplo, entre as nove startups, estão a Descomplica (foco em ajudar estudantes do ensino médio que iriam prestar o ENEM), o Paypal  (que representou um novo modelo de pagamentos), o Fashion.me (rede social de moda, cujos fundadores entraram para a lista das 100 pessoas mais criativas do mundo, em 2012, pela revista Fast Company), a Boo-box (empresa de publicidade e mídias sociais),  a 99designs (empresa do mercado de design gráfico online por meio do crowdsourcing), entre tantas outras, que certamente ultrapassam as nove listadas naquela matéria.

Outro aspecto relacionado à inovação é que muitas pessoas confundem inovação com invenção. Na verdade, para que uma invenção se torne de fato uma inovação, ela precisa ser comercializada, o que é consequência direta do seu potencial de aplicação, de sua aceitação no mercado e da sua capacidade de geração de lucro. Outra forma de pensar é quando relacionamos ideias e oportunidades. E aí eu te pergunto: do que vale uma ideia se ela não atender a uma oportunidade do mercado? Segundo uma das empresas de design e inovação mais reconhecidas do mundo, a IDEO, a inovação mora na intersecção dos desejos humanos com a viabilidade técnica e a viabilidade de negócio. Ou seja, não basta ter uma boa ideia, ela tem de ser viável, o que representa ser capaz de dar resultado, para se tornar uma inovação.

Talvez agora comece a ficar um pouco mais claro o pensamento de Drucker, que explora o conceito de que inovação é a função específica do empreendedorismo. Então, por que não fazer do seu empreendimento uma consequência da sua capacidade de inovação? Creio que esse seja o melhor caminho para o sucesso.

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Flávio Cordeiro

Profissional com mais de 15 anos de experiência executiva nos segmentos editorial, eventos e educação executiva. Respondeu pelas áreas de marketing, planejamento e operações em empresas líderes de mercado como Folha de São Paulo, Valor Econômico e HSM do Brasil, onde foi responsável pelo planejamento estratégico, na função de diretor de marketing. Foi um dos executivos fundadores do jornal Brasil Econômico como diretor de mercado leitor, além de participar de projetos de reestruturação de canais e lançamento de novos produtos em âmbito nacional. Fundador da consultoria GD4 Estratégia &Gestão, que tem como foco o desenvolvimento de mentalidade e execução estratégica de empresas. Atua como palestrante, consultor e professor na área de estratégia, com participação nas bancas examinadoras de marketing, estratégia e TCC da ESPM. Mestre em Administração de Empresas pelo Mackenzie, com MBA em Gestão Empresarial pelo Ibmec-SP. Graduou-se em Engenharia de Produção pela FEI e participou das especializações em Comunicação Corporativa da Fundação Getúlio Vargas e Gestão de Mudanças da Business School São Paulo.