Eric Ries, maior divulgador da “lean startup”, aponta como erro comum aos empreendedores a rejeição ao conhecimento de gestão


Como vocês sabem, sou editora, há 17 anos, de uma revista especializada em gestão,  a HSM Management, muito lida por executivos de grandes e estabelecidas e empresas. Por conta disso, já fomos questionadas algumas vezes, tanto eu quanto a revista, acerca do fata de escrever sobre empreendedorismo. A linha argumentativa até parece razoável: “Conhecimentos de organizações hiperestruturadas e com muitos funcionários não se aplicam a quem está começando”.

Parece, mas não é. Esse questionamento não poderia estar mais errado, e por uma simples razão: o empreendedorismo é um sistema de gestão. E não fui eu que disse isso, mas um dos ícones do empreendedorismo enxuto, ou da “lean startup”, o Eric Ries. 

Na nossa revista de nº 104, demos uma excelente entrevista com ele, e vou reproduzir três trechos (a entrevista é bem grande), para que ele fale por mim:

• PERGUNTA: Aplicar os princípios de um processo fabril de 60 anos não soa como um grito de guerra para fazer o sangue de aspirantes a empreendedores ferver. Por você acha que o pensamento enxuto deu certo para empreender?
RESPOSTA DO ERIC: Fazemos filmes sobre empreendedores visionários brilhantes porque isso chama a atenção, mas uma startup é um organismo –uma instituição humana. Não se trata da criação de um indivíduo heroico. É um sistema de indivíduos trabalhando juntos no sentido de uma meta comum.
E por isso empreendedorismo é gestão. É fundamentalmente organizar pessoas para realizar algo. Tudo o mais é efeito colateral dessa organização. 
Sempre me vejo em maus lençóis quando falo sobre isso para grandes plateias, porque acham que vou falar sobre coisas descoladas como startups e produtos minimamente viáveis e começo dizendo: “Vamos falar sobre gestão e em seguida sobre contabilidade”. 
Pode ser chato, mas é isso que startups e empreendedorismo são na verdade. 

• PERGUNTA: Então, um princípio fundamental de sua abordagem é a necessidade de aplicar uma gestão rigorosa a um contexto [enxuto] naturalmente resistente à gestão…
RESPOSTA DO ERIC: Eu não colocaria as coisas dessa forma, porque quero que chamemos para nós a palavra “gestão” e afastemos a associação com burocracia e formas rígidas de pensar. Precisamos mais do que nunca de gestão, porque a incerteza é cada vez maior. 
A gestão deve ser uma forma de prever o futuro, de manter as coisas em ordem e de evitar a variabilidade. Vimos isso na indústria, mas isso também precisa ser aplicado à prática da inovação, mesmo quando tentamos provocar variabilidade e causar ruptura.

• PERGUNTA: Parece que você está colocando um cabresto no empreendedor apaixonado e soltando as rédeas da empresa estabelecida… 
RESPOSTA DO ERIC: Já enfrentei a situação de não ser bem-vindo a nenhuma dessas tribos, nem dos empreendedores, nem dos executivos de empresas estabelecidas. 
Para muitos empreendedores, lançar algo novo significa socar o universo até ele fazer o que você quer. Envolve “ser macho” e fazer acontecer com determinação cega. Para essas pessoas, falar sobre gestão parece realmente chato. E no contexto tradicional da organização, para alguns eu pareço maluco.
Claro, grandes empresas estão cheias de empreendedores e sempre estiveram. De onde vieram todas essas divisões de negócios? Elas foram legados por Deus nos tablets da lei? Não, elas já foram startups.

Claro, a gestão de uma empresa iniciante não pode ser idêntica à de uma empresa estabelecida. Na entrevista publicada na HSM Management, Eric diz que é preciso mudar as métricas de desempenho utilizadas, por exemplo. Aspas dele: “As métricas de contabilidade tradicionais –lucratividade, retorno sobre investimento, retorno líquido sobre bens– mostram zero nos estágios iniciais, mesmo se você for o próximo Twitter. Não é culpa do contador nem do diretor financeiro. É culpa do paradigma. As pessoas de gestão de finanças não conseguem tomar boas decisões, porque as métricas que conhecem são erradas”.

E tem mais. Eric Ries, ambicioso como todo empreendedor, sugere uma nova teoria geral da gestão, em que a gestão dos negócios será parecida com a gestão de portfólio de investimentos. Aspas do Eric Ries novamente: “Acredito que uma teoria geral da gestão está surgindo. Ela tem de ajudar as pessoas a entender:
 1. como ter uma ideia, como começar e como gerenciar as pessoas que atuam bem nisso; 
2. como incorporar experiências em sua estratégia central; 
3. como medir uma coisa nova que foi bem sucedida em suas operações gerais e transformar isso em um produto maduro; 
4. como gerenciar o fim da vida de um produto, onde terceirizar e reduzir custos”.

 Eric acredita que o portfólio dessa nova gestão será composto desses quatro tipos de gestão, como se fossem investimentos em imóveis, em renda fixa, em renda variável e em derivativos. 

Bem, é por isso que tanto eu e meus quase 25 anos cobrindo essa área de negócios quanto (principalmente) uma revista especializada em gestão como  a HSM Management talvez, quem sabe, possamos contribuir um pouquinho, sim, para o sucesso empreendedor, com nosso conhecimento de gestão. E é o Eric Ries que está dizendo! 😉

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Adriana Salles Gomes

Editora-chefe da revista HSM Management, especializada em gestão de negócios, trabalhou na Gazeta Mercantil e Exame, fez um guia de sabáticos – ”Fuja por um Ano“ e escreve para a revista eletrônica Terra Magazine sobre a cultura business.